sexta-feira, 24 de junho de 2011

Bibliografia Dispersa (1): Livros do Cartório da Sé e Sumários de Lousada

Introdução
No meu trabalho de pesquisa documental e bibliográfica sobre o Património e História de Almada e da sua Região encontro algumas fontes que, não sendo relacionadas directamente com Almada, trazem alguns apontamentos interessantes, e por vezes inéditos, que merecem ser conhecidos.

Tentarei publicar alguns posts com estes elementos, a que chamarei « Bibliografia Dispersa».
No primeiro post apresento alguns apontamentos extraídos dos Livros do Cartório da Sé e dos Sumários de Lousada
Transcritos numa importante fonte bibliográfica, sobretudo medieval, que é o livro Documentos para a história da cidade de Lisboa: Cabido da Sé. Sumários de Lousada. Apontamentos dos Brandões. Livro dos bens próprios dos reis e rainhas, Lisboa, Câmara Municipal, 1954, trata-se de um livro inserido num conjunto de publicações feitas pela C.M. de Lisboa nos anos 40, 50 do século XX sobre algumas fontes importantes para a história de Lisboa, mas que abrange pessoas e toponímia de outras localidades fora de Lisboa.

No caso de Almada traz apontamentos sobre:
- A quinta de Palença, no séc. XVI;
- A Capela de Bartolomeu Joanes na Sé (uma das mais ricas do país) a que estava anexa a quinta da Silveira na Sobreda;
- O Morgado dos Almadas (Abranches) e os seus bens em Almada e Caparica;
- A quinta do Val de Rosal, no séc. XVI;
- A história do povoamento de Cacilhas ligada a D. Nuno Álvares Pereira;
- Pero Afonso Mealha proprietário em Almada no século XIV.


Apontamentos
(pp. 39-40)
1522 (23 de Agosto) – «Livros do Cartório da Sé: Título IV. Dos Testamentos e Capelas (…) Verba do testamento de D. Catarina da Cunha, mulher de Affonso Nunez, feito em 23 de Agosto de 1522, por que manda que na sua cappella se digão, em diz a de defuntoz, huma missa cantada com seo nocturno, ofertada com douz alqueires de pam cozido e hum almude de vinho, para o que deixa o cazal que tinha, digo, de vinho, e dias rezadas, cada huma ofertada com hum alqueire de pam e meio almude de vinho, para o que deixa o cazal que tinha em Almada, junto à sua quinta de Palença, e que o sucessor de seo morgado e administrador da ditta cappella, pelo rendimento do dito cazal, ornará a ditta cappella, e o que sobejar mandará dizer missa nella, fl. 76»



(Imagem da Quinta de Palença, dos Cunhas)

(p. 75)
1326 (14 de Agosto) – «Livros do Cartório da Sé: Título VI. Das Sentenças (…) Contracto que fez o Cabbido com os testamenteiroz de Bartolomeu Joannes, em 14 de Agosto de 1326, era de 1364, pello qual, em execução da sua vontade, dotarão a cappella que elle instituhio e lhe anexarão – huma quinta na Telhada, termo de Alanquer. – huma quinta em Ribatejo – huma quinta no termo de Almada [*] – huma quinta em Palma – humas cazas na Judiaria – outras cazas no Picoto (…)»

[*] Nota: através do zelo dos administradores e com clara protecção régia, solicitada por Bartolomeu Joanes no seu testamento, a Capela possuía, no séc. 18, inúmeros terrenos, que lhe conferiam um rendimento considerável; este constava de oito casas na cidade de Lisboa, que rendiam 66$668 reis; duas quintas, uma na Palma de Baixo e outra nos Olivais, em Lisboa, com renda de 13$020 reis; vinhas em Telheiras e Barcarena, com o rendimento de 6$220; uma quinta, azenhas, casas e pomar em Barcarena, com o rendimento de 21$510; um casal no Turcifal e outro em Barcarena, rendendo 27$200; Quinta da Chapueira, em Torres Vedras, duas em São João da Talha, uma delas denominada Quinta da Figueira, a Quinta do Rei, na vila de Alenquer e a da Silveira, na Caparica, rendendo um total de 65$880; a Capela tinha, pois, um avultado rendimento, num total de 200$498 anuais, que permitia cumprir as disposições testamentárias do instituidor, bem como as várias obras pias; não existem notícias da localização do seu hospital, sendo, certamente, integrado, durante o séc. 15, no de Todos os Santos, como aconteceu às demais instituições deste tipo que existiam em Lisboa. (Cfr. João Neto, 1992, e Paula Figueiredo, 2008 in http://www.monumentos.pt/ /Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=2196)

(p. 223-229)
1382 (29 de Maio) – «Sumários de Lousada (Excertos): Parte II (…) No Cartório de Jorge de Penalva, escrivão das capellas, hospitais e alvergarias de Lisboa, achey a instituição da caepella que fez Vasco d[e] Almada. Diz assi: Saibão todos que na era de 1421 (isto he anno 1382) aos 29 dias de Mayo, na cidade de Lisboa, nas pousadas da morada de Vasco Lourenço d[e] Almada (…) De hum feito deste cartoreo que se processou no anno de 1503 consta como houve demanda sobre a capela de Vasco Lourenço d[e] Almada. Foi escrivão Martim de Crasto e processou-se contra huma Anna Rodriguez, viúva, molher que foi de Carlos Caiado, que trazia certa propriedade da dita capela, polo administrador desta mesma sita em São Mamede de Lixboa, por nome Dom João d[e] Abranchez do conselho d[e] El Rey e administrador da capela e morgado de Vasco Lourenço d[e] Almada, edificada na igreja de Sam Mamede desta cidade (assi o diz). E correo o feito diante do doutor Diogo Lopez de Carvalho, ambos do desembargo d[e] El Rey e desembargadores das capellas. Dona Mecia da Cunha, era molher do dito João d[e] Abranchez e nos artigos diz o dito Dom João provará que seu pay Dom Álvaro Vaz d[e] Almada, capitão mor de Portugal e Conde d[e] Abranchez, possuhira em sua vida todolos bens que tinha na villa d[e] Almada e seus termos em nome e titolo de morgado que instituhio e fez Vasco Lourenço seu avô e bisavô delle A.  E por sua morte elle A. Entre todos seus irmãos e irmãas ficou herdeyro e admnistrador delles, por serem de morgado, e consta destes autos como Dom João ainda era vivo aos 16 de Dezembro do dito anno de 1503 e aos 27 de Janeiro seguinte já era morto e ficou a administração ao Dom Álvaro seu filho menor e sua may ficou por tutora. Diz como despois da morte do dito Álvaro Vaz a dita terra que he em Caparica, a condessa Dona Constança fez troca e escambo com Guilherme Cayado, dono e sogro dos reos, no Dezembro de 1491, pello qual o ditto Guilherme deu a seu filho Carlos, marido da R., este bacelo e na sentença que em favor de Dom João deu El Rey Dom Manoel, intitula a Dom João d[e] Abranchez, fidalgo da sua casa e do seu conselho e intitula a seu pay, Dom Álvaro Vaz d[e] Almada, em capitão mor destes reynos. Faz-se também menção nella de hum escambo de outras leiras do morgado, feito a 28 de Dezembro da era de 1441, por João Afonso tabaliam, pello qual consta como Álvaro Vaz d[e] Almada, ric[o] homem e capitão mor de Portugal e alcaide mor de Lixboa, casado com Dona Izabel da Cunha, nomeya a Dona Constança por condessa d[e] Abranchez. Dada em Lixboa a 27 de Agosto de 1449. De hum escambo feito no Dezembro anno 1441 consta como o dito Álvaro Vasquez d[e] Almada era ric[o] homem e tinha mais titilios acima referidos. Estava casado com sua molher Dona Izabel, em Almada, nas suas cazas, e era a villa do Infante Dom João. Doutro escambro, a 3 de Dezembro anno 1491, que fez a condessa de Abranchez Dona Constança de Noronha, em Lixboa, nas suas cazas. Doutro aforamento feito no anno de 1523 consta como estava na sua quinta de Caparica, que he de morgado. Dom Álvaro e Dona Joana de Melo, sua molher. (…) E no anno de 1548, no Março, Dom Álvaro d[e] Abranchez em hua petição que fez a el rey sobre esta capela, diz que faleceo Dom João seu pay, dia de Santo Antão da era de 1504 (…)».

(p. 234)
1532 (19 de Março) – «Sumários de Lousada (Excertos): Parte II (…) No cartoreo de Pero basto, escrivão dos órfãos em Lixboa, á Mouraria, acheo o inventário que se fez a 19 de Março de 1532 da fazenda que ficou por morte de Dona Francisca de Souza, molher de Tristão de Souza, o qual fez Britis Lopez, may della, para Joanna, sua neta, de idade de 11 annos, filha do seu primeiro marido Dom Garcia d[e] Eça e para Dom garcia, de 10 annos, filho do ditto Dom Garcia, e para Pero Souza, filho do ditto Tristão de Souza, de idade de hum anno e da dita Dona Francisca, e para Garciza de Souza, sua primeira molher, de idade de 8 annos. (…) Nomeia esta Britiz Lopez a hum seu irmão por nome Anrique Costa. Foy isto feito na rua da Figueira. Entre as outras quintas nomeya em Caparica a de Val de Rosal

(p. 246)
«Sumários de Lousada (Excertos): Parte II (…) No cartoreo de João de Penalva, escrivão das capellas, hospitais e albergarias de Lixboa, em hum feito que toca a instituição do morgado dos Almadas, achey huma inquirição como no porto de Cacilhas, em cima delle, Nuno Alvarez Pereira fizera as primeiras cazas que ouve no dito porto e também se pretendeo provar que no anno de 40 [1340], não havia em Caçilhas mais que 5 ou 6 vezinhos, mas não o disseram assy as testemunhas».

(p. 261)
1365 (21 de Dezembro) – «Sumários de Lousada (Excertos): Parte II (…) El Rey Dom Pedro, segundo papéis do mesmo cartório de São Domingos, chama a este Pedro Afonsso Mealha, seu vassalo, em huma carta de mercê de çertas herdades em Almarge, termo de Almada; foi passada nas Alcáçovas a 21 de Dezembro, Vasco Lourenço a fez, era 1403, que he anno 1365.»

RUI M. MENDES
30 de Maio de 2011

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