segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Almada: realidades administrativas e identidades locais


A propósito de realidades administrativas e funcionais e de conceitos de identidade local é pertinente referir que em Almada, apesar de algumas das localidades / freguesias serem muito recentes como colectividades administrativas, historicamente as suas populações têm tido um conceito e uma forte identidade local desde há muito!

Trafaria, freguesia desde 1926, desde pelo menos 1743 que tinha um Cofre do quinhão das pescas para pagar ao seu Capelão e promover a devoção à Sr.ª da Saúde (1.ª padroeira da localidade) e no séc. XIX também utilizado para pagar ao médico que assistia aos pescadores e respectivas famílias.

Cova da Piedade, freguesia desde 1928, tinha pelo menos desde 1606 a sua Irmandade local dedicada a N.ª Sr.ª da Piedade, padroeira cujo título se sobrepôs ao de S. Simão, invocação original da Ermida da Piedade, chegando mesma a sobrepor-se à designação original da povoação que era Cova da Mutela.

Costa da Caparica, freguesia desde 1949, tinha também pelo menos desde 1848 (senão desde a fixação dos pescadores na Costa em 1770) um Cofre do quinhão das pescas para as obras da igreja e do cemitério, pagamento de um Capelão e de um médico (à semelhança do que acontecia na Trafaria).

Sobreda, freguesia desde 1985, é uma das povoações mais antigas do concelho, umas das quatro (as outras foram Murfacém, Funchal e Cebolal) cujos moradores se juntaram para formar a freguesia de Caparica em 1472. A Sobreda tinha Capela pública desde o séc. XVII e uma Irmandade desde o séc. XVIII que organizava anualmente as festas da localidade. Dispunha ainda desde 1911 de uma colectividade o Clube Recreativo Sobredemse.

Cacilhas, freguesia desde 1985, há notícias de uma Irmandade de St.ª Luzia dos arrais de barcos de Cacilhas em 1597, a mesma que em 1696 manda construir à sua custa uma nova Igreja dedicada a N.ª Sr.ª do Bom Sucesso paga com uma esmola fixa por cada transporte feito no rio. Esta Irmandade e a devoção da N.ª Sr.ª do Bom Sucesso era tão grande (reforçada depois do Terramoto de 1755) que mesmo na implantação da República os Cacilhenses juntaram-se para impedir o arrolamento e fecho da Igreja e continuar a sua procissão anual apesar desta manifestação ir contra as Leis da República que impedia manifestações religiosas públicas.

(N.ª Sr.ª do Bom Sucesso, padroeira de Cacilhas - foto da O FAROL - Associação de Cidadania de Cacilhas)


Pragal, freguesia desde 1985, desde 1758 tinha a sua própria igreja ou ermida construída pelo esforço e dinheiro dos pragalenses que chegaram a ter no séc. XIX uma Irmandade responsável pela administração dos bens da ermida.

Charneca de Caparica, freguesia desde 1985, desde a primeira metade do séc. XIX que as gentes da Charneca organizavam as suas festas a St.º António na Ermida de Monserrate. Houve na Charneca desde a 1.ª metade do séc. XX uma Associação Funerária responsável pela manutenção da Carreta e desde 1910 o centenário Clube Recreativo Charnequense.

Laranjeiro e Feijó, freguesias desde 1985 e 1993, serão talvez as localidades / freguesia de formação urbana mais recente no contexto do concelho de Almada resultante sobretudo da implantação do Arsenal do Alfeite, apresentam desde a 1.ª metade do século XX diversas colectividades como o Clube de Instrução e Recreio do Laranjeiro fundado em 1936 e o Clube Recreativo do Feijó fundado em 1944.


Existem contudo outras localidades em Almada que, apesar de terem os mesmos elementos de identidade local anteriormente citados, não chegaram a ganhar foros de colectividade administrativa, cito aqui:
- Porto Brandão;
- Vila Nova;
- Vale Figueira (é freguesia religiosa);
- Vale Flores.

Se a estes apontamentos históricos mais antigos juntarmos outros mais recentes da vida colectiva local, como por ex.º as Sociedades de Beneficência, Cooperativas de Consumo e Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto, com forte implantação local pelo menos desde a 2.ª metade do século XIX, rapidamente se conclui que em Almada há desde há muito várias identidades locais que se estabeleceram muito antes das identidades ou realidades administrativas.


RUI M. MENDES
Caparica, 20 de Agosto de 2012


quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Imagens de Almada (1) : F. Rocchini (c. 1872)

Na Colecção «Thereza Christina Maria» que se encontra arquivada na Biblioteca Nacional do Brasil, encontramos duas fotografias da segunda metade do séc. XIX tendo a margem sul do Rio Tejo como pano de fundo:

Vista de Lisboa (c. 1872)
(http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_iconografia/TH_christina/icon819789.jpg)

Na vista de Lisboa, tirada provavelmente do Castelo de S. Jorge , vê-se um panorama do Alfeite e Caramujo em fundo e mais próximo a beira rio entre Cacilhas e Olho de Boi.
Esta foto apresenta um carimbo do fotógrafo «F. Rocchini» e ainda um apontamento a lápis «Imperatriz».
A data da foto deverá situar-se entre 1871 e 1875 uma vez que na mesma ainda se vislumbram as obras de conclusão do Arco da Rua Augusta que só terminaram em 1875.

Torre de Belém (c. 1872)


Na foto da Torre de Belém vê-se em plano de fundo a beira rio entre Alfazina e a Torre Velha (Lazareto) com a excepção da Banática e Porto Brandão tapados pela própria Torre de Belém.
A foto apresenta além do carimbo do fotógrafo o carimbo «DEPOSITADA».
A data da segunda foto da Torre de Belém deverá ser posterior a 1869 pois já apresenta sobre a Torre Velha da Caparica os volumes do Novo Lazareto edificado entre 1867 e 1869.
Foi precisamente neste Lazareto que D. Pedro II, Imperador do Brasil e a sua mulher D. Teresa Cristina Maria se alojaram aquando da sua chegada a Lisboa a 12 de Junho de 1871, numa viagem que fizeram pela Europa e Norte de África entre 1871 e 1872.

Coleção Teresa Cristina Maria
Esta colecção conssiste de 48.236 volumes encadernados e inúmeras brochuras, sem contar folhetos avulsos, fascículos de várias revistas literárias e científicas, estampas, fotografias, partituras musicais e mais de mil mapas geográficos impressos e manuscritos.
As suas 21.742 fotogarafias foram coligidas pelo Imperador Pedro II do Brasil que depois as deixou à Biblioteca Nacional do Brasil (portal do arquivo digital: http://bndigital.bn.br/) em 1891.
As fotografias desta colecção abrangem várias temáticas sobre a vida do Brasil e dos Brasileiros no séc. XIX bem como diversos fotógrafos da Europa, África e América do Norte.
O nome da colecção foi dado por ordem de D. Pedro II em memória à imperatriz consorte Thereza Christina Maria (1822-1889) (ver foto), filha do Rei Francisco I das Duas Sicílias e Maria Isabella de Espanha com quem D. Pedro casou em 1842.
(foto de D. Teresa Cristina Maria, c. 1876)

A coleção está hoje classifica pela UNESCO como património mundial.

Francesco Rocchini (?1820 – 1895)
Resta dizer que o autor das fotos, Francesco Rocchini, nasceu em Monte Leone, Itália, cerca de 1820, veio para Portugal na década de 40 do século XIX (1844 ou 1847) e era marceneiro de profissão.
De acordo com biografia publicada pelo Centro Português de Fotografia, Rocchini terá aprendido o processo do daguerreótipo com K. P. Corentin que em 1851 ensina-lhe a técnica em Lisboa.
Fotografou pelo país inteiro, aliando as actividades de marceneiro, fotógrafo, fabricante de máquinas, de acessórios para fotografia e de pequenos laboratórios para trabalhar ao ar livre.
Inicialmente localizado na Travessa de Santa Gertrudes, à Estrela, estabeleceu-se depois com um estúdio de fotografia na Travessa da Água Flor, n.º 21, 2º a São Pedro de Alcântara, no decurso do ano de 1865.
Foi fornecedor de imagens para revistas nacionais e estrangeiras, nomeadamente a Illustração Portuguesa, o Panorama Photographico e O Occidente, e para as Academias de Belas Artes.
Foi também fotógrafo da Casa Real portuguesa. Publicou parte dos seus trabalhos em álbuns com albuminas de vistas e monumentos.

No arquivo da Coleção Teresa Cristina Maria estão registadas 13 fotografias de Rocchini:
Torre de Belém (Lisboa, Portugal) (icon819787)
Torre de Belém (icon819788)
Lisboa [vista parcial] (icon819789)
Monumento a José I, Rei de Portugal (icon819790)
Aqueduto das Águas Livres em Lisboa (icon819791)
Observatório do Infante D. Luis (icon819792)
Palácio da Ajuda (icon819793)
Palácio das Necessidades (icon819794)
Mosteiro dos Jerónimos (icon819795)
Mosteiro dos Jerónimos (icon819796)
Mosteiro dos Jerónimos (icon819797)
Mosteiro dos Jerónimos (icon819798)
Basílica da Estrela (icon819799)
Igreja da Encarnação (icon582558)

Conhecemos também 3 doc. fotográficos de Francesco Rocchini na Colecção Nacional de Fotografia, PT-CPF-CNF; e 22 doc. fotográficos de Francesco Rocchini na Sub-Colecção da Colecção Nacional de Fotografia - Colecção Alcídia e Luís Viegas Belchior, documentação adquirida por compra à Livraria Histórica Ultramarina, Lda., posterior a 1997.

RUI M. MENDES
Caparica, 16 de Agosto de 2012

Fontes: