domingo, 22 de janeiro de 2012

Figuras de Almada (3): Pintor Luciano Freire e a Trafaria




Fig. 1: Auto Retrato (1885), de Luciano Freire
Fonte: Dicionário de Pintores e Escultores Portugueses

Luciano Freire, notável pintor dos séculos XIX e XX (1864-1935) (ver biografia no fim), além das suas obras originais teve importante papel no restauro de algumas das mais conhecidas obras da pintura portuguesa, como sejam os Painéis de S. Vicente, de Nuno Gonçalves, e o S. Pedro, de Vasco Fernandes.

Luciano Freire frequentava a Trafaria no Verão onde tinha uma casa na Rua 5 de Outubro, e foi aqui que fez a pintura a óleo sobre madeira Trecho da Trafaria.
Esta peça, que esteve a leilão em 2008, entretanto retirada, representa a velha Ermida de Nossa Senhora da Conceição da Trafaria, hoje totalmente em ruínas, e o casario circundante.
 
Fig. 1: Trecho da Trafaria (séc. XX), de Luciano Freire)

RUI M. MENDES
Caparica, 22 de Junho de 2011

Bibliografia:
PAMPLONA, Fernando de – Dicionário de Pintores e Escultores Portugueses, Vol. II, 4.ª Ed., Lisboa: Livraria Civilização Editora, 2000
Revista Ocidente: revista portuguesa de cultura: Volume 66, 1964, p. 234



Anexo:
Biografia de Luciano Freire, por Fernando de Pamplona
Luciano Martins Freire - Notável pintor dos séculos XIX e XX (1864-1935), discípulo de Miguel Ângelo Lúpi, Ferreira Chaves e Silva Porto. Impôs-se pela acuidade visual e pela segurança da técnica. Figurou com pintura nas Exposições da Sociedade Promotora de Belas-Artes, desde 1884. Nas Exposições do Grémio Artístico, apresentou obras de real interesse, como: “A ração” e “Ilha dos Amores”, em 1892; “Tresmalhados”, “Inverno” e “Retrato de Silva Porto”, em 1896 (este último pertence à Sociedade Nacional de Belas-artes); “Perfume dos campos)”, em 1899. Na 1.ª Exposição da Sociedade Nacional de Belas-Artes, figurou com “Eterno Escravo”. No Museu de Arte Contemporânea, está o seu quadro “Desolação” (1900), imenso descampado de tons verdes sombrios sob um céu de chumbo, cuja infinita melancolia impressiona; também ali se encontram o seu esplêndido “Auto-retrato” (1885) e a tela decorativa “Perfume dos campos”. No Museu Militar, há vários trabalhos seus: na Sala da Guerra Peninsular, no tecto e nas faces das consolas que servem de apoio à arquitrave, as figuras alegóricas da Guerra, Paz, Glória e Patriotismo; na Sala da Europa, o painel “Nun'Álvares”, correcto de execução, mas órfão de grandeza (para ele pousou o poeta Eugénio de Castro); na escadaria de saída, “Portugal Velho” e “Balística”. Mais obras suas: no Museu Grão Vasco, de Viseu, “Trecho de floresta”; na Igreja Paroquial de S. Salvador, Maiorca, Figueira da Foz, o grande retábulo “O Salvador” (1901); na Biblioteca-Museu Almeida Moreira; de Viseu, “Rapaz do chapéu de palha” e um retrato; no Museu do Caramulo, o esboceto “Cabeça de velho”; no Museu Municipal de Ponta Delgada, retratos-género este em que se fez notar, por sua objectividade e poder de observação. Luciano Freire dedicou-se com saber e proficiência ao tratamento da pintura antiga, prestando assim inestimáveis serviços ao nosso tesoiro artístico: foi ele que restaurou primorosamente os famosos painéis “Veneração a S. Vicente”, de Nuno Gonçalves, e o “S. Pedro”, de Vasco Fernandes, bem como o retábulo da Sé de Viseu e muitas outras tábuas primitivas. Exerceu com distinção o cargo de professor da Escola de Belas-Artes de Lisboa. Foi também escritor, versando com muita competência problemas de arte.
Fonte: Fernando de Pamplona, Dicionário de Pintores e Escultores Portugueses, Vol. II, 4.ª Ed., Lisboa: Livraria Civilização Editora, 2000, pp. 352-355